História do Cristianismo - Plenitude dos Tempos

23.01.2017

Por Carolina Baeta

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Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei” Gálatas 4:4

 

O que significa a plenitude dos tempos que lemos em Gálatas 4:4?

 

Parece que tem um significado muito simples.

 

Significa que Deus enviou o seu filho Jesus quando chegou a hora certa, no exato momento que Deus havia designado. Este é o sentido mais simples que podemos atribuir a essa expressão.

 

Entretanto, alguns historiadores e especialistas em história eclesiástica percebem que essa expressão encerra algo muito maior. Esses historiadores enxergam nessa expressão a ideia de que Deus preparou, ao longo dos séculos, todo um cenário para que seu filho nascesse. Deus então preparou todo um ambiente, um momento histórico, que favoreceu de modo singular a expansão da fé cristã por todo o mundo.

 

Se isso for verdade, como parece ser, isso significa que, se Jesus tivesse nascido hoje, a sua mensagem não teria o mesmo alcance que teve a mais de 200 anos atrás. Mesmo com toda tecnologia que temos atualmente, não podemos dizer que hoje seria o momento pleno para a primeira vinda de Cristo.

 

Imagine por alguns instantes se Jesus viesse hoje na Palestina. Uma região de conflito, cheia de fundamentalistas religiosos, guerras e interesses políticos. Uma desordem. Será que o filho do carpinteiro seria ouvido ali e sua mensagem se espalharia tão rapidamente? Apenas nos 3 primeiros séculos da era cristã, sem internet, telefone móvel ou fixo, a mensagem de Cristo se espalhou rapidamente por todo império Romano, e também para regiões dalém do império, como Índia e Etiópia.

 

Alguns fatores foram fundamentais para que a igreja se expandisse e chegasse até você. E isso é importantíssimo pois faz parte da sua história. São fatores construídos por Deus ao longo dos séculos, antes de Jesus nascer e antes da igreja surgir, conforme citado em Atos 2, para que um dia o evangelho chegasse até você. Estamos tratando aqui um pouquinho da sua história, da sua biografia cristã.

 

Essa história começa lá no século IV antes de Cristo.

 

Deus preparou o cenário. Ele preparou o mundo para que a fé cristã nascesse, fosse revelada e crescesse. Ele cuidou do ambiente de tal forma que permitisse que essa fé chegasse até você hoje, aqui, no século 21. Muitas pessoas como eu e você foram levantadas por Deus para defender essa fé, e defendê-la com a própria vida. Muitos correram riscos, passaram fome, abandonaram família, muitos estudaram muito para traduzir os livros, muitos abriram mão de conforto para que os povos fossem alcançados. E essa tarefa ainda não terminou.

 

Vamos citar aqui alguns fatores fundamentais que contribuíram para a plenitude do tempo, a vinda de Jesus:

 

1. Fator geográfico da Palestina

 

A Palestina, região onde o cristianismo deu seus primeiros passos, foi sempre uma terra sofrida. Nos tempos antigos, isso ocorria devido a sua posição geográfica. A Palestina era uma região que estava no meio do caminho entre o oriente e ocidente. Era uma região que colocava na encruzilhada as grandes rotas comerciais que uniam o Egito à Mesopotâmia e a Arábia à Ásia menor.

No século IV a.C., Alexandre, O Grande, derrotou os Persas e dominou a Palestina. Com a morte de Alexandre, essa região passa por anos de instabilidade política. A dinastia dos Ptolomeus, fundada por um dos generais de Alexandre, apoderou-se da Região do Egito e os Selêucidas dominaram a Síria. Sabe-se que o propósito de Alexandre não era simplesmente conquistar o mundo, já que queria unir a humanidade sob a mesma civilização de “tonalidade grega”. O resultado disso foi o helenismo. O helenismo não era algo bom para os judeus, pois parte da ideologia helenista era a junção dos deuses de diversos povos, o que representava uma ameaça à fé monoteísta dos judeus. O ponto culminante da luta entre a pressão helenista e a resistência judaica foi com a rebelião dos Macabeus. Em 63 ac, o romano Pompeu conquista a região e depõe o último dos Macabeus.

Com os Romanos no poder, os judeus gozavam de certa liberdade em relação à religião e aos costumes. Herodes, O Grande, é nomeado rei da Palestina em 40 a.C. Com sua morte no ano 4 a.C. o território da Palestina é dividido entre seus filhos: Arquelau, ficando com a Iduméia, Judéia e Samaria; Herodes Antipas com a Galiléia e Peréia; Herodes Felipe com Traconites.

 

Esse é um breve contexto histórico da Palestina à época de Jesus.

 

No evangelho de Lucas encontramos a descrição da Palestina no tempo de Jesus:

“1 No décimo quinto ano do reinado de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judéia, Herodes tetrarca da Galiléia, seu irmão Filipe tetrarca da região da Ituréia e de Traconites, e Lisânias tetrarca de Abilene, 2 sendo Anás e Caifás sumos sacerdotes, veio a palavra de Deus a João, filho de Zacarias, no deserto. 3 E ele percorreu toda a circunvizinhança do Jordão, pregando o batismo de arrependimento para remissão de pecados,” (Lucas 3,1s) Bíblia Almeida

 

O fato é que tudo que passava pelo oriente para o ocidente passava pela Palestina, de modo que isso favoreceu a disseminação da fé cristã que surgiu ali. Tudo que acontecia ali se espalhava. Os comerciantes passavam ali e levavam e traziam mercadorias e informações. Os comerciantes iam para a Mesopotâmia e levavam e traziam também notícias. A palestina dava acesso ao mar mediterrâneo, abrangendo grande parte da costa oriental do mar mediterrâneo, e tudo isso favorecia a expansão da fé que surgiu ali na Palestina.

 

Se o cristianismo tivesse surgido em outro lugar, que não ali em Jerusalém, hoje talvez os ensinos de Jesus seriam desconhecidos. É possível que o cristianismo fosse considerado apenas mais uma seita judaica.

 

2. Fator Intelectual grego.

 

Quando o Cristianismo surgiu, a língua grega era uma língua extremamente conhecida na bacia do mediterrâneo. Os livros do novo testamento bíblico foram escritos em grego koiné, que era o grego comum, diferente do grego clássico. Isso facilitou a comunicação das idéias, a propagação da fé cristã, afinal existia uma língua única comum.

 

Além disso a cultura grega já havia sido disseminada por toda a região do mediterrâneo. Desde os dias de Alexandre, a cultura grega estava sendo impregnada na mente das pessoas no mundo antigo. A cultura grega, por exemplo, falava que tinha um mundo diferente deste terreno. Era a idéia platônica: a idéia do mundo dos universais, de uma realidade mais intensa, mais real do esta aqui que estamos inseridos. Platão ensinava que esse mundo é apenas uma sombra de um mundo mais real. Essa mensagem facilitou a disseminação das ideias cristãs que apontam para a existência de um céu. Além disso a filosofia grega fazia entender a falta de sentido nos deuses pagãos, pois o pensamento grego era intelectualizado. As pessoas eram convidadas a refletir e argumentar, e isso refletiu na fé em deuses pagãos. Então a religião dos deuses passou a não fazer sentido e as pessoas começavam a buscar uma religião mais séria e que fizesse mais sentido.

 

3. Fator religioso judaico:

 

No ano 586 a.C dá-se início às deportações dos judeus, que foram levados para a Babilônia em 3 deportações. A primeira em 605 a.C, quando Nabucodonosor invadiu Jerusalém e levou a nobreza da cidade para a Babilônia, e com isso foi com ele o profeta Daniel. Depois Nabucodonosor voltou para fazer uma deportação em 597 a.C e depois voltou novamente em 586 a.C e levou o que restava do povo judeu.

 

Os judeus ficaram no exílio babilônico por 70 anos, até sair o decreto de Ciro, dizendo que os judeus estavam livres. Com a liberdade os judeus se espalharam pelo mundo. O novo testamento chama isso de dispersão, que é a diáspora dos judeus.

 

A diáspora não aconteceu por acaso. A grande dispersão dos judeus que aconteceu no 5 século a.C, aconteceu por causa desse plano de Deus para espalhar a mensagem de Cristo. O Cristianismo obteve vantagens nessa diáspora, pois com isso o povo judeu levou consigo conceitos, idéias e valores, que foram úteis para a disseminação do Cristianismo. Dentre esses conceitos podemos citar a crença em um único Deus verdadeiro. O nome disso é monoteísmo. Os pagãos da antiguidade eram politeístas.  Somente os judeus naquela época eram monoteístas. Quando os apóstolos começaram a pregar sobre um único Deus, as cidades pagãs já estavam familiarizadas com essa idéia. Também, a comunidade judaica acreditava na vinda de um Messias, graças a esperança judaica, a esperança messiânica, de que um dia viria alguém para resgatar o povo judeu e restaurar Israel. Isso se tornou comum entre os pagãos, uma vez que os judeus espalhados pelo mundo haviam disseminado a idéia de um Messias.

 

A lei, a moral e ética judaica, que vemos principalmente nos 10 mandamentos bíblico, também contribuíram a assimilação do cristianismo, principalmente porque a remissão de pecados dentro do judaísmo exigia derramamento de sangue. O pecado dentro do judaísmo era algo que exigia sacrifício, fazia-se necessário fazer remissão pelos pecados através do sangue. E quem disseminou essa ideia de redenção pelo sangue entre os pagãos foram os judeus. Quando os cristãos chegaram com sua mensagem, eles encontraram mentes que estavam familiarizadas com essa mensagem. Era necessário quebrar barreiras religiosas, culturais, mas o povo já tinha algum contato com essas idéias através dos judeus espalhados pelo mundo.

 

A bíblia dos cristãos era conhecida por causa da dispersão dos judeus pelo mundo todo. Os livros do antigo testamento eram a bíblia que os cristãos da igreja relatada no livro de Atos usavam (pentateucos, profetas, escritos, salmos), e eram os mesmos livros usados pelos judeus.

 

Tem-se também, dentro do judaísmo, a expectativa de um reino messiânico, um reino que vai se estabelecer no futuro. Nos livros do antigo testamento temos uma filosofia otimista, de que um dia o próprio Deus reinará e estabelecerá o seu reino sobre todo o mundo, pondo um fim ao mal. Os cristãos alcançaram os pagãos com essa mensagem, popularizada anteriormente pelos judeus.

 

4. Fator político Romano.

 

Alguns dizem que a primeira organização missionária paraeclesiástica foi o império Romano. E o primeiro missionário que eles enviaram foi o apóstolo Paulo.

 

É interessante ver a ironia dessa história. O sonho de Paulo era chegar em Roma, mas porque? Por que ele queria pregar na capital do império? Paulo sabia que todos os caminhos levam à Roma, mas também levam de Roma. Ele sabia que pregando em Roma o evangelho se espalharia. Quem o enviou para Roma foi o império Romano. Tudo por conta do império romano: navio, alimentação, segurança. Ele pregava o evangelho com a segurança dos soldados ao lado dele.

 

O livro de atos termina com a chegada de Paulo em Roma e ele pregando ali. Paulo prega o evangelho no coração do império Romano, sob a proteção de sentinelas ao lado dele. Muitos soldados de Roma foram evangelizados por Paulo, pelo menos indiretamente. É interessante notar a ironia da história: O império Romano, que era exatamente o império contra o Cristianismo, foi na verdade uma instituição, que de certa forma, promoveu o Cristianismo através da prisão de Paulo. Paulo pregava que de fato todos estávamos debaixo de uma só lei: A lei do pecado. O cristianismo “pegou uma carona” nesse conceito de unidade que o império romano tinha imposto e transmitiu ao homem antigo que todos estão debaixo de uma só lei, pois todos pecaram. Esse conceito de unidade de toda a raça favoreceu a evangelização do mundo.

 

O império também favoreceu o evangelismo porque trazia tranquilidade nas viagens. Era possível viajar tranquilamente naquela época. Antes do Império Romano, isso não era possível pois existiam piratas no mediterrâneo. Quando o império Romano se estendeu por toda aquela região do mediterrâneo, a paz romana se estabeleceu em toda aquela região, e o mediterrâneo se tornou mais tranquilo. As pessoas, inclusive os missionários, poderiam navegar ali naquelas águas, pois o império romano manteve a ordem e a paz naquela região. Isso foi muito bom para o Cristianismo pois os missionários viajavam pelo mediterrâneo e chegaram a lugares distantes navegando por ali, o que favoreceu a expansão da fé cristã.

 

Temos também no império romano as estradas. As estradas do império romano eram ótimas. Havia todo um trabalho de engenharia para construir as estradas, que eram feitas dos mais diversos materiais. O império romano construiu muitas estradas e muitas delas permanecem até hoje. Isso contribuiu muito para o cristianismo pois os missionários eram itinerantes. Vários missionários anônimos viajaram pelas estradas romanas, para regiões distantes, anunciando o evangelho nos locais mais remotos do império romano.

 

Outro fator que contribuiu para o cristianismo foi o exército romano. Os soldados romanos também se converteram ao cristianismo. Encontramos nos livros do novo testamento algumas citações de soldados romanos que começaram a se simpatizar com a fé cristã:

 

Jesus curou o servo de um centurião de Cafarnaum (Mt 8.5-13; Lc 7.10-10). Os líderes judeus do local o consideravam amigo dos judeus - e com razão, pois ele construiu uma sinagoga para eles.

 

O centurião encarregado dos soldados que crucificaram Jesus ficou tão impressionado com o que viu e ouviu que concluiu que Jesus era inocente e divino (Mt 27.54; Mc 15.39,44-45; Lc 23.47).

 

Em Atos 10, lemos sobre Cornélio, o centurião temente a Deus que foi convertido através da pregação de Pedro.

 

Vários centuriões anônimos participaram da prisão e do encarceramento de Paulo (At 21.31-39; 22.25; 23.17,23; 24.23).

 

Júlio era o centurião encarregado de Paulo e de outros prisioneiros enviados a Roma (At 27.1). Ele tratou Paulo com bondade (27.3), embora tenha dado mais atenção ao capitão e ao dono do navio do que ao conselho de Paulo (27.9-11).

 

Eles conheceram e receberam o salvador. Quando esses soldados eram designados para uma região distante, eles levavam consigo a sua fé e a compartilhavam com as pessoas. Um exemplo disso é que quando os primeiros missionários cristãos chegaram onde hoje está localizada a Inglaterra, eles encontraram cristãos ali. Acredita-se que quem levou evangelho para lá foram os soldados romanos designados para aquela região distante.

 

Outro fator que favoreceu o cristianismo dentro do império romano foram as suas conquistas territoriais. Os romanos conquistaram povos que criam em deuses falsos. Quando os romanos avançavam sobre esses povos, como o seu exército era muito forte, tudo era destruído. Suas estratégias de guerra eram imbatíveis. (assistir filme gladiador). Enquanto os  bárbaros pegavam pedras e pedaços de pau para guerrear, os romanos tinham toda uma ordem para atacar, um sistema altamente estratégico. Um soldado romano podia morrer em treinamento, pois eles usavam em treinamento armas de madeira, duas vezes mais pesadas que as armas normais. O império romano realmente dominou o mundo pela sua força. Então os povos dominados ficaram frustrados com os seus deuses, pois apesar de todos os sacrifícios oferecidos, os deuses deles não garantiam as batalhas contra os romanos. Isso facilitou para que os cristãos apresentassem um Deus que não falha, um Deus que se pode confiar.

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